VIOLÊNCIA CONJUGAL CONTRA A MULHER, SAÚDE E GÉNERO - CONTRIBUTOS PARA MELHORAR AS PRÁTICAS PROFISSIONAIS E AS POLÍTICAS DE PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA

Autores

  • Maria de LaSalete Calvinho Instituto Politécnico de Viana do Castelo
  • Maria Natália Pereira Ramos Universidade Aberta de Portugal

DOI:

https://doi.org/10.21665/2318-3888.v2n3p42-69

Resumo

A violência contra a mulher é um fenómeno social complexo e multifatorial, uma grave ameaça de saúde para as mulheres vítimas e que compromete o presente e o futuro de inúmeras famílias, mulheres, crianças e homens, com consequências a diversos níveis e prejudicial para toda a sociedade. É uma violência que ocorre nas relações afetivas e interpessoais e que assenta em desigualdades de género difíceis de mudar e em comportamentos resistentes, alimentados e perpetuados por valores e crenças e pela cultura patriarcal. Tem tendência à persistência e repetição, causando fortes impactos negativos na saúde mental e física e na capacidade de participação familiar e social das vítimas diretas e indiretas. A Organização Mundial de Saúde classifica esta violência conjugal como um problema de saúde pública que requer intervenção dos profissionais de saúde (OMS, 1996; WHO, 2002). A violência conjugal está na origem de grande morbilidade, mortalidade e maior propensão para comportamentos de risco para a saúde e para a mortalidade precoce. Tem consequências permanentes para a mulher, para os seus filhos, para a família e para a sociedade. Aumenta o consumo de recursos e gastos com a saúde. Uma investigação de natureza qualitativa com mulheres vítimas de violência conjugal, de diferentes gerações e de meio rural e urbano revelou o forte impacto da violência na vida e na saúde das mulheres e dos seus filhos. Contudo, estas mulheres não reconheciam os profissionais de saúde como recursos nessa situação. Estas vítimas manifestaram dificuldades para solicitar o apoio dos profissionais de saúde, por processos culturais e psicológicos complexos de reação à violência mas, também por falta de condições e de confiança para abordar o assunto com os profissionais (Calvinho, 2007). Também uma investigação sobre as representações sociais da violência conjugal contra a mulher que os profissionais de saúde têm e sobre a articulação entre os diversos profissionais de saúde que atendem mulheres vítimas de violência conjugal, salientou a necessidade de uma intervenção mais articulada com os outros recursos da comunidade para a prevenção da violência conjugal, para o diagnóstico da situação e para o encaminhamento e assistência das mulheres vítimas de violência conjugal (Calvinho, 2013). O aumento deste tipo de violência em Portugal e no mundo exige uma abordagem interativa e dinâmica, um combate sistematizado de todos (as) contra a mesma, bem como, a necessidadede mudança de atitudes e comportamentos das mulheres e dos homens, vítimas e autores de violência conjugal, de práticas e de políticas mais equilibradas e igualitárias ao nível das relações de género. A formação e o papel dos profissionais que contactam com estas vítimas são fundamentais com vista a uma intervenção integrada, articulada e dirigida às efetivas necessidades das vítimas e das famílias, bem como a promoção de estratégias e políticas de saúde e de género, preventivas e adequadas ao combate efetivo da violência conjugal, integrando as vítimas e os autores da violência.

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Biografia do Autor

Maria Natália Pereira Ramos, Universidade Aberta de Portugal

Possui licenciatura em Psicologia pela Universidade de Coimbra - 1981. Tem especialização em Aconselhamento Psicológico (1986) pela Universidade René Descartes, Instituto de Psicologia, Paris V, Sorbonne. É mestre em Psicologia Clínica e Patológica por esta mesma instituição. É doutora (Janeiro 1994) e pós doutorada (1994-1995) em Psicologia Clínica Intercultural pela mesma universidade. Além disso, é Pós-Graduada em Antropologia Fílmica pela École Pratique des Hautes Études, Sorbonne, Paris e Universidade de Paris X, Nanterre (1989-1995). Está na Universidade Aberta de Lisboa (UAb) desde 1995, onde é professora associada de nomeação definitiva a tempo integral. Nesta universidade, é investigadora do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais-CEMRI, desde 1995, onde coordena o grupo de investigação Saúde, Cultura e Desenvolvimento. É Coordenadora do Programa de Mestrado em Comunicação em Saúde (1997-2011), do qual foi fundadora. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase nos domínios da Psicologia Clínica e da Saúde; Psicologia Clínica Intercultural; Psicologia Social; Psicologia da Educação e do Desenvolvimento; Educação e Comunicação Interculturais; Antropologia Fílmica.

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Publicado

2014-12-10

Edição

Seção

Dossiê: Gênero e Sexualidade