VIOLÊNCIA SIMBÓLICA NO TRABALHO: CONSIDERAÇÕES EXPLORATÓRIAS SOBRE A NOVA ONTOLOGIA DO TRABALHADOR NA PÓS-MODERNIDADE

Autores

  • Cristina Myuki Hashizume Universidade Estadual da Paraíba

DOI:

https://doi.org/10.21665/2318-3888.v2n4p137-150

Resumo

Apesar de já termos superado modelos de trabalho que desconsideravam a inteligência do funcionário, encarando-o como máquina, como os modelos Taylorista e Fordista, e termos ingressado numa nova ordem de relações organizacionais mais horizontalizadas que valorizam a participação e a criatividade do funcionário (Toyotismo), ainda é notável a exploração desigual da empresa em relação ao funcionário em nome da ética do capital. O mundo pós moderno rompe com paradigmas e parâmetros estáveis da organização do mundo moderno, inserindo valores como o risco, a flexibilidade, a ilegibilidade, deixando o trabalhador à deriva da possibilidade de planejar sua carreira profissional a médio ou longo prazo.  Com isso, deparamo-nos com um trabalhador que tem a sua rotina e valores (caráter) desvirtuados por uma lógica que prioriza a subserviência às mudanças instantâneas do mercado. Sennet (2000) propõe um entendimento de que o caráter do trabalhador pós moderno está corroído, tamanha é a instabilidade e a dificuldade de se manter os laços e compromissos entre trabalhadores e destes com a chefia. Frente a esse cenário, surge um novo paradigma, que elegemos como nosso tema no presente artigo, que instiga os trabalhadores e grandes empresários a cultuar a sua auto performance (EHRENBERG, 2010). A figura do workaholic, outrora vista como uma patologia, hoje é considerada o ideal de dedicação no trabalho. O mundo do trabalho pós-moderno assimila o discurso do competidor esportista: por se tratar de um jogo, ainda que as metas não tenham sido alcançadas naquela ocasião, há novas oportunidades de se recuperá-la, em outras partidas. Dessa forma, controla-se o sujeito de forma onipresente, como já havia teorizado Delleuze (1992), em sua sociedade do controle. No presente trabalho iremos focar a violência simbólica cometida pelas corporações em relação a seus funcionários. Nosso objetivo é demonstrar teoricamente que tal violência se trata de uma prática institucionalizada e que está dentro de uma lógica de mercado que impera nas grandes corporações. Partindo do histórico das práticas de controle e biopoder, traremos a discussão sobre o assédio moral, expressão em alta, que preferimos chamar de violência simbólica. O termo assédio está em voga, foco de inúmeras publicações especializadas. O uso desse novo termo, porém, não rompe com a lógica já existente entre vítimas e algozes, nem problematiza questões para além de uma função pragmática e alienada de mundo. Concluímos que frente à nova ontologia do trabalhador, a violência simbólica ocorre de modo consentido pelo trabalhador. A violência institucionalizada deve ser contextualizada a partir da compreensão das novas relações de trabalho, ambientadas num capitalismo financeiro que vê em tudo um fim lucrativo e performático. O conceito de assédio acompanha o processo de juridicialização do direito social, que intenta tornar mais justa as relações sociais, seguindo, porém, um princípio equivocado: coloca no indivíduo o poder de julgar a tudo e a todos, restabelecendo a justiça de forma privatista.

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Biografia do Autor

Cristina Myuki Hashizume, Universidade Estadual da Paraíba

Possui graduação em Psicologia (1999) , mestrado (2002) e doutorado (2010) em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Desde 2002, atua como professora universitária em cursos da área de Saúde e Educação. Tem experiência na área de Psicologia e Trabalho, a partir da abordagem da Psicossociologia Clínica. Desenvolve pesquisas e projetos de extensão em saúde de profissionais da Saúde e Educação.

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Publicado

2015-05-09

Edição

Seção

Artigo