Teatro-Política-História: algumas notas a partir de Brecht

Autores

  • Romero Venancio Departamento de Filosofia/UFS

Resumo

Comecemos com um pequeno princípio metodológico: leremos a peça Quebra-quilos, trabalho extraordinário do diretor Márcio Marciano e do grupo de teatro Alfenim, pelas lentes do teatro dialético brechtiano. Em nenhum momento forçaremos a barra para colocar numa camisa de força importada um arrojado “teatro paraibano”. Longe disso. É que pela formação do diretor na Companhia do Latão, e por uma série de cenas que nos levam a um certo “estranhamento”, fica fácil aproximarmos a peça Quebra-quilos de algumas categorias desenvolvidas pelo teatrólogo alemão B. Brecht. Marciano e o Alfenim produziram um texto vigoroso e inteligente, a altura de qualquer grande trabalho teatral no Brasil contemporâneo. Escolheram uma temática nada neutra politicamente da história do Nordeste e em particular da Paraíba: a Revolta do Quebra-Quilos, de 1874. As informações históricas vêm a “contra-gotas”, pois fica notório que o interesse da peça não é o de nos contar uma história tal qual foi (se é que isto é possível para a historiografia acadêmica!), mas fazer uma leitura “dramática” de momentos/acontecimentos significativos da pesquisa feita sobre o determinado acontecimento. Retomemos um pouco da história da revolta dos quebra- quilos para voltarmos à peça e percebermos que a escolha do grupo Alfenim foi mais do que feliz em um momento de “despolitização” do teatro brasileiro, onde seguir um “modelo televisivo” (da Rede Globo, em particular) passou a ser fórmula de sucesso para vários grupos teatrais da nossa Pindorama.

Referências

ANDRADE, Manoel Correa de. O homem e a terra no Nordeste. São Paulo: Cortes, 2006.

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Publicado

2010-10-17

Como Citar

VENANCIO, Romero. Teatro-Política-História: algumas notas a partir de Brecht. A Palo Seco – Escritos de Filosofia e Literatura, São Cristóvão-SE: GeFeLit, n. 2, p. 33–36, 2010. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/apaloseco/article/view/n2p33. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos