O boné do bufão: comicidade e conhecimento

Autores

  • Jacqueline Ramos Departamento de Letras de Itabaiana/UFS

Resumo

Pródigo em rupturas, o século XX rompe também com a milenar tradição que contrapõe o cômico ao sério e que havia abafado aquelas vozes que defendiam o valor da comicidade. O largo uso dos procedi- mentos cômicos fez parte do experimentalismo linguístico a que se aventuraram a vanguarda europeia e nosso primeiro modernismo, que valorizaram e exploraram a comicidade por suas possibilidades de repre- sentação. Essa reviravolta na concepção do cômico já vinha sendo gestada no pensamento filosófico, começando por Schopenhauer, que definiu o cômico como um “excedente de pensamento” capaz de reve- lar o malogro da razão; passando por Kierkegaard, que o considera modo de experimentar valores; por Freud, que vê o inconsciente franqueado pelo chiste; e ainda com Georges Bataille, Foucault etc. Entre outros, merece destaque Nietzsche, que nos ensina que o universo não tem um sentido pré-estabelecido, e “Deus está morto”, o que torna toda história humana um engano! Descobrir o engano é perceber a piada. Rir nesse caso indica a revelação, é o que interessa a Zaratustra, o ridente: “E que seja tida por nós como falsa toda verdade que não acolheu nenhuma gargalhada” (Nietzsche apud Alberti, 2002, p. 15).

Referências

ALBERTI, Verena. O riso e o risível na história do pensamento. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.

ARISTÓTELES, HORÁCIO, LONGINO. A poética clássica. São Paulo: Cultrix, 1990.

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ROSA, Guimarães. Tutaméia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967.

TRACTATUS COISILIANUS. In HOMERO. Batraquiomaquia: a batalha dos ratos e das rãs. Estudo e traduções de Fabrício Possebon. São Paulo: Humanitas, 2003.

Publicado

2011-10-06

Como Citar

RAMOS, Jacqueline. O boné do bufão: comicidade e conhecimento. A Palo Seco – Escritos de Filosofia e Literatura, São Cristóvão-SE: GeFeLit, n. 3, p. 51–56, 2011. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/apaloseco/article/view/n3p51. Acesso em: 19 abr. 2024.