Tradução dos capítulos «Sobre Voltaire» e «Sobre o Abade de Lamennais, a propósito do <em>Ensaio Sobre a Indiferença em Matéria de Religião</em>», do livro <em>Literatura e Filosofia Mescladas</em>, de Victor Hugo

Autores

  • Maria A. A. de Macedo Universidade Federal de Sergipe/UFS

Resumo

Introdução à tradução

Littérature et Philosophie Mêlées foi publicada originalmente em 1834, em dois volumes. O primeiro apresentado em duas partes: “Journal des idées, des opinions et des lectures d’un jeune jacobite de 1819” e “Journal des idées et des opinions d’un révolutionnaire de 1830”. Os dois volumes tratando-se do percurso intelectual, literário e político desde os 16 até os 32 anos de idade de Victor Hugo – pelo menos o percurso que este autor quis trazer à luz ao seu tempo, projetando-o, aliás, como herança para as gerações futuras.

Os capítulos objetos da tradução encontram-se no segundo volume, que são, tal como o primeiro, anotações de ideias várias, em forma de diário, obedientes à ordem cronológica da biografia do autor. Se no primeiro volume, essas ideias se encontram em estado larvário, no segundo volume elas mostram-se inequívocas. O primeiro dispõe anotações agrupadas em núcleos de ideias desenvolvidas ao longo dos anos iniciais da carreira de Hugo, sendo o segundo volume dedicado à crítica literária de Hugo sobre a obra de alguns escritores, tais como Voltaire, Byron, Walter Scott, Lamennais, Dovalle e Mirabeau.

Escolhemos para a tradução dois capítulos presentes no segundo volume de Littérature et Philosophie Mêlées, que são “Sur Voltaire”, de 1823 e “Sur l’abbé de Lamennais, à propos de l’Essai sur l’indifférence en matière de religion”, escrito em 1830 – ambos publicados anteriormente em jornais da época. O motivo da escolha deve-se à necessidade de dar-se a conhecer uma relação não muito pacífica entre dois períodos históricos, filosóficos e literários, que foram as Luzes e o Romantismo francês. Há uma série de prefácios dos românticos franceses, traduzidos em português, cuja intenção é a de explicar a estética romântica e suas fontes de imaginação oriundas da religião cristã. No entanto, parece haver certa carência de traduções de textos que contemplem a crítica fervorosa dos primeiros românticos franceses com seu alvo claramente dirigido aos pensadores das Luzes.

Toma-se geralmente, ao se abordar o Romantismo, o seu enaltecimento da Revolução Francesa, apresentando-se a revolução literária defendida nos prefácios românticos uma simples continuidade natural daquela. Porém, a passagem entre o Iluminismo e o Romantismo envolve maior complexidade, em suas continuidades e descontinuidades, cobrindo uma fase de extrema agitação provocada pela pluralidade política-ideológica dos escritores-pensadores, e pelo secular antagonismo entre religião e razão. Revirando esse antagonismo, os primeiros românticos tomam como porta-voz a religião e como adversários, os iluministas.

Visualiza-se em Victor Hugo, no primeiro capítulo traduzido a seguir, uma passagem entre os dois séculos intranquila, em um olhar crítico e escarnecedor do século das Luzes – século que expulsa a religião, especialmente a católica, do seu sistema de pensamento. Elegendo Voltaire o representante desse século que, nas palavras de Hugo, seria somente uma época de transição entre o grande século de Luís XIV e o Romantismo, ele irá mesclar a sátira, a história, ficção e crítica no capítulo “Sobre Voltaire”. À título de ilustração, destaco aqui um fragmento da tradução que tipifica a crítica de Hugo para com Voltaire e as Luzes em geral: “É ainda nesse período que data sua [a de Voltaire] cooperação com a Enciclopédia, obra em que homens, que tinham querido provar sua força, provaram tão somente sua fraqueza [...]” (p. 05)

Na defesa comum dos pré-românticos à volta da inclusão da religião na literatura e em outras formas de pensamento, Victor Hugo no segundo capítulo, Sobre o Abade de Lamennais, a propósito do “Ensaio sobre a indiferença em matéria de religião”, desenvolve uma apologia àquele que irá se exercitar na defesa do catolicismo como elemento imprescindível ao pensamento, que foi, segundo o próprio autor, Lamennais.

Estes dois capítulos encerram uma fase de Hugo ainda jovem, em defesa da arte como a expressão de uma monarquia de cor cristã. Ele caminhará posteriormente rumo a expressões outras, tais como a concepção de uma arte que expressaria o liberalismo e, por fim, uma arte que revelaria o socialismo. Entretanto, é nosso objetivo registramos aqui seus escritos mais próximos das Luzes e em embate com elas.

Referências

HUGO, V. Oeuvres complètes de Victor Hugo. Littérature et philosophie mêlées. Texte établi par Cécile Dubray. Paris: Imprimerie Nationale, Ollendorff, Albin Michel, 1934. Disponivel em: ‹https://fr.wikisource.org/wiki/Litt%C3%A9rature_et_philosophie_m%C3%AAl%C3%A9es/1823-1824/Sur_Voltaire›.

HUGO, V. Oeuvres complètes de Victor Hugo. Littérature et philosophie mêlées. Texte établi par Cécile Dubray. Paris: Imprimerie Nationale, Ollendorff, Albin Michel, 1934. Disponível em: ‹https://fr.wikisource.org/wiki/Litt%C3%A9rature_et_philosophie_m%C3%AAl%C3%A9es/1823-1824/Sur_l%E2%80%99abb%C3%A9_de_Lamennais›.

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Publicado

2017-03-15

Como Citar

MACEDO, Maria A. A. de. Tradução dos capítulos «Sobre Voltaire» e «Sobre o Abade de Lamennais, a propósito do <em>Ensaio Sobre a Indiferença em Matéria de Religião</em>», do livro <em>Literatura e Filosofia Mescladas</em>, de Victor Hugo. A Palo Seco – Escritos de Filosofia e Literatura, São Cristóvão-SE: GeFeLit, n. 8, 2017. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/apaloseco/article/view/6325. Acesso em: 29 mar. 2024.

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