O furor de Hipólito na Phaedra de Sêneca

Autores

  • Tereza Pereira do Carmo Universidade Federal da Bahia/ILUFBA

Resumo

Apresentaremos neste trabalho algumas notas para um estudo do discurso de Hipólito em Phaedra, do trage- diógrafo romano Sêneca. Partindo do estoicismo que trabalha com a ideia de paixão como doença intelectual que priva a alma da saúde, pois uma alma saudável é uma alma racional, apontaremos para a presença do irracional na personagem Hipólito tendo o furor presente em suas palavras e ações. A partir da análise da perso- nagem queremos mostrar que Sêneca aproveita o abandono da razão pela paixão como um erro de julgamento que contradiz a proposta estoica. Para Sêneca todos os homens estão sujeitos à paixão, mas deixar-se dominar pelo pathos, pelo irracional tem consequências funestas. Hipólito, mesmo considerando degradante a vida na cidade e no palácio e preferindo viver junto à natureza, deixa-se dominar pela paixão, perde a razão diante das adversidades e o furor que o domina tem como a consequência a catástrofe. Dessa forma, Sêneca apresenta, na tragédia os malefícios das paixões e, assim, o tragediógrafo e o filósofo se complementam.

PALAVRAS-CHAVE: Sêneca. Estoicismo. Furor. Hipólito.

 

RESUMEN

Mi contribución para la discusión propuesta en este foro es presentar algunas notas para un estudio del discurso de Hipólito en Phaedra, del tragediógrafo romano Séneca. Partiendo del estoicismo, en el cual la idea de pasión corresponde a una enfermedad intelectual que despoja el alma de la salud, ya que un alma saludable es un alma racional, apuntaremos para la presencia de lo irracional en el personaje Hipólito considerando el furor presente en sus palabras y acciones. A partir del análisis del personaje queremos enseñar que Séneca se vale del aban- dono de la razón por la pasión como un error del juzgamiento que contradice la propuesta estoica. Para Séneca todos los hombres están sometidos a la pasión, pero dejarse dominar por el pathos, por lo irracional trae conse- cuencias funestas. Hipólito, aunque considerando indigna la vida en la ciudad y en el palacio y prefiriendo vivir junto a la naturaleza, se deja dominar por la pasión, pierde la razón delante de las adversidades y el furor que lo domina tiene como consecuencia la catástrofe. Así, Séneca enseña los maleficios de la pasión en la tragedia y, de esa manera, el tragediógrafo y el filósofo se complementan.

PALABRAS-CLAVE: Séneca. Estoicismo. Furor. Hipólito.

Referências

BOYLE, A. J. In Nature’s Bonds: a Studyof Seneca’s Phaedra’, ANRW II.32.2: 1284–1347, 1985.

BRÉHIER, É. História da filosofia I/1. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

BRUN, J. O estoicismo. Lisboa: Edições 70, 1986.

CACCIAGLIA, Mario de, L’etica stoica Nei drammi di Seneca. Rendiconti dell’Instituto Lombardo, Classe di Lettere e Scienze. v. 108, 1974, p. 78-104.

CARDOSO, Zélia de Almeida. Estudos sobre as tragédias de Sêneca. São Paulo: Palameda, 2005.

CARDOSO, Zélia de Almeida. O tratamento das paixões nas tragédias de Sêneca. Letras Clássicas 3,129-146,1999.

CARMO, Tereza P. Didascálias no OEDIPVS de Sêneca. 2006. 127p. Dissertação (Mestrado em Letras Clássicas). Faculdade de Letras, Universidade federal de Minas Gerais. DUPONT, Les monstres de Sénèque. Paris, Bélin, 1995.

DUPONT, F. Le prologue de la Phèdre de Sénèque. REL 69 (1991), pp. 124-135.

FARIA, Ernesto. Dicionário escolar latino-português. MEC/FAE, 1992.

GLARE, P. G. W. Oxford latin dictionary. Oxford: Clarendon, 1982.

GRIMAL, P. Dicionário da mitologia grega e romana. Tradução de Victor Jabouille. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.

LEBRUN et alii. Os sentidos da Paixão. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

LEEMAN, A. D. Seneca’s Phaedra as a Stoic Tragedy, en J. M. Bremer (ed.) Miscellanea tragica in honorem. J.C. Kamerbeek, Amsterdam, 1976, pp. 199-212.

RAIJ, Cleonice Furtado de Mendonça Van. Fedra de Sêneca: discurso literário e perspectivas para um estudo filosófico. 1992. 443p. Tese (Doutorado em Letras Clássicas). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.

RICCI, Ângelo. O teatro de Sêneca. Porto Alegre: UFRGS, 1967. (Conferências, 2).

RUSSO, M. Stoicism. Sophia on-line Philosophy courses. Disponível em: http://www.molloy.edu/academic/philosophy/sophia/ancient_lit/happiness/stoicism2.htm. Acesso em: 10/06/2017.

SCHIESARO, A. The Passions in Play. Thyestes and the Dynamics of Senecan Drama. Cambridge, 2003.

SEGURADO E CAMPOS, J. A. Notas para uma leitura da Phaedra de Séneca. Euphrosyne, Lisboa, v. 12, 1983/84, p. 155-176.

SÉNECA. Tragédias. Tome II: Fedra – Edipo – Agamenón – Tiestes – Hércules em el Eta – Octavia. Introducciones, traducción y notas de Jesús Luque Moreno. Madrid: Editorial Gredos, 1980. (Colección Biblioteca Clásica Gredos).

SÉNÈQUE. Tragédies. Tome I: Hercule furieux – Les Troyennes – Les Phéniciennes – Médée – Phèdre. Trad. Léon Herrmann. Paris: Les Belles Lettres, 1961.

TOLA, E. Configuraciones poéticas del furor en la Fedra de Séneca. Praesentia 16, 2015.

ULMANN, Reinoldo Aluysio. O estoicismo romano: Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996, (Filosofia, 45).

VEYNE, Paul. Séneca y el estoicismo. México: Fondo de Cultura Económica, 1995.

Publicado

2018-01-23

Como Citar

CARMO, Tereza Pereira do. O furor de Hipólito na Phaedra de Sêneca. A Palo Seco – Escritos de Filosofia e Literatura, São Cristóvão-SE: GeFeLit, n. 10, p. 121–129, 2018. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/apaloseco/article/view/8264. Acesso em: 20 abr. 2024.