Editorial - Apresentação do Dossiê Educação a Distância

Autores

  • Florisvaldo Silva Rocha Universidade Federal de Sergipe (UFS)— São Cristóvão, Sergipe

DOI:

https://doi.org/10.29276/redapeci.2014.14.33612.448-453

Resumo

 

Apresentação

Certamente Edgard Roquette-Pinto e Henry Morize[1] não imaginavam que suas ideias de levar educação e cultura aos lares brasileiros através das incipientes ondas do rádio, fossem embrionárias de um movimento que no século XXI assumiria proporções de tsunami, impulsionado tanto pelo surgimento de outras tecnologias da informação e da comunicação (TIC), quanto por sua diversificação e consequente difusão.

Hoje, com o aperfeiçoamento da microeletrônica e com uso crescente de multimídia, hipermídia e ferramentas de interação a distância, e também, com o avanço dos media digitais e principalmente com a expansão da Internet, essas tecnologias, agora adjetivadas, passam a ser definidas como tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) e possibilitam o aces­so de um número cada vez maior de pessoas à Educação, oportunizando interação e colaboração entre pessoas, independente de distâncias  geográficas e/ou contex­tos.

Se em 1923 aqueles citados cientistas, tendo como modelo a educação escolarizada da época, oportunizaram que se transmitissem a um punhado de pessoas, “[,,,] lições, palestras, aulas de Português, Literaturas Francesa e Inglesa, História do Brasil, Geografias Naturais, Física, Química e cursos práticos sobre Rádio, Telegrafia, Telefonia e prática de Silvicultura”, como aponta Assumpção[2], hoje a Educação a Distância (EAD) se encontra inserida em quase todos os momentos da escolarização dos brasileiros, desde a Educação Básica até o Ensino Superior e representa a modalidade de ensino que mais cresce em todo o país. Em 2013, somavam mais de um milhão as matrículas de bacharelado, licenciatura e cursos superiores tecnológicos a distância[3], por exemplo, só para citar o Ensino Superior.

Esse crescimento rápido e vertiginoso traz à reflexão diversas questões que circundam as lógicas de atuação dessa modalidade, que vão desde o aprimoramento das relações entre professor e estudantes no ambiente virtual de aprendizagem (AVA), até as formas de avaliação apropriadas a esse processo de ensino, passando pela escolha e confecção de materiais didáticos adequados aos ambientes, pela reflexão sobre as competências necessárias aos tutores, bem como suas funções e limitações na atuação tutorial, entre muitas outras nascidas com o avanço da EAD, mas principalmente, da necessidade de fazer com que toda essa tecnologia e seu uso não se constituam em, apenas, um novo instrumento de uso em uma arcaica Educação.

Muitos estudos têm sido realizados na tentativa de dar respostas aos diversos questionamentos que vêm surgindo ao longo dessa aventura da Educação na sua modalidade a distância no Brasil e alguns desses estudos encontram-se publicados na décima quarta edição da Revista EDaPECI, no dossiê Educação a Distância.

Estão expressos nesse dossiê resultados de pesquisas, estudos de caso, relatos e reflexões a cerca da EAD e sua estrutura de ação, mais especificamente sobre a política de formação de professores, a opinião dos sujeitos envolvidos na modalidade, também, um olhar sobre a tutoria por diversos ângulos, como a sua competência pedagógica e sócioafetiva, os critérios de sua seleção e as vivências entre estes e os professores. Além disso destacam-se também, um olhar sobre o material didático e suas especificidades e sobre o audiovisual e seu papel no ensino e na apredizagem.

Abrindo o dossiê Jussara Borges da Silva e Claudio Pinto Nunes, publicizam o artigo intitulado “Políticas de formação de professores na modalidade da educação a distância no Brasil”, que propõe uma abordagem analítica do desenvolvimento das políticas de formação de professores na EAD a partir de uma revisão bibliográfica da questão pós década 1990, no bojo das reformas educacionais brasileiras. Os autores apontam que apensar da crescente oferta de EAD, sua regulamentação é frágil e a regulação é ainda incipiente.

Na sequência, o artigo intitulado “Comparação entre as características e percepções de alunos em curso e dos evadidos de um curso técnico a distância do IF Fluminense” de autoria de Márcia Gorett Ribeiro Grossi e Renata Cristina Nunes, traz a partir de estudo descritivo, realizado com alunos tanto em curso, quanto evadidos de um Curso Técnico em Segurança do Trabalho, oferecido pela rede E-TEC Brasil no Instituto Federal Fluminense – RJ, uma reflexão sobre os motivos e as razões que fundamentam um índice de evasão na ordem de 50% no referido curso, e com isso buscaram contribuir com a compreensão das questões que envolvem a evasão na EAD. A falta de motivação e de organização do tempo, os problemas com atuação de professores e tutores, a falta de interatividade e atrasos e/ou falhas na entrega do material didático, são alguns dos achados do estudo.

De autoria de Camila Bruning, Luciana Godri, André Luis Marra do Amorim, o texto intitulado “Diferenças na vivência de professores e tutores na Educação a distância: um estudo de caso”, investigou o contexto de trabalho de professores e tutores e sua relação com aspectos da subjetividade, nomeadamente o prazer e o sofrimento. O estudo teve locus numa universidade pública, no curso de graduação em Administração Pública e por meio de entrevistas semiestruturadas e de um Inventário de Trabalho e Riscos de Adoecimento – ITRA, aplicados junto a esses profissionais, apontou que os tutores apresentam maior descontentamento com as atividades de EAD que desenvolvem. Sendo a falta de autonomia e a falta de espaço para criatividade, responsabilizadas, no estudo, por essa insatisfação, além, também, de detectarem que esses profissionais demonstraram sentir mais esgotamento, mais medo e maior insegurança se comparados aos professores.

Outro artigo intitulado “Competências pedagógicas e socioafetivas de tutores a distância na percepção de alunos”, de autoria de André Tenório, Lucinere de Souza Quintanilha Carvalho, Ivonete Pereira Vital e Thaís Tenório, a partir de um estudo de caso, revela com base na análise de questionários aplicados junto a alunos de diversos cursos de graduação de uma universidade privada do Rio de Janeiro – RJ, que informar os critérios de avaliação do curso, ajudar com dificuldades de aprendizagem e estimular posturas autônomas são as ações tutoriais mais importantes da função e que o atraso em responder as dúvidas dos alunos representa a ação mais prejudicial ao andamento dos processos de ensino e de aprendizagem a distância.

Outra investigação envolvendo um olhar, também, sobre a tutoria é o artigo intitulado “Processo seletivo de tutores da UAB da UFAL: aspectos para uma seleção criteriosa e significativa” de autoria de Rosana Sarita de Araújo. A partir de um estudo comparativo entre dois editais de seleção de tutores para UAB/UFAL anos 2012 e 2013 o estudo considera os aspectos legais e os aspectos técnico-pedagógicos que convergem para uma seleção criteriosa e significativa. A análise dos dados aponta as limitações que a legislação delineia para a seleção de tutores, as diferenças nos índices de aprovação dos candidatos em relação às etapas utilizadas no processo de seleção, os impactos da prova de conhecimento versus a entrevista, bem como demonstra a crescente credibilidade do processo de seleção de tutores da UAB/UFAL.

Já o estudo de Fernando Silvio Cavalcante Pimentel e Cleide Jane de Sá Araújo Costa, intitulado “Análise de descritores comuns no material didático para EAD: os materiais impressos do curso de Pedagogia da UAB” com base em pesquisa bibliográfica e documental representa um esforço para identificar e catalogar os materiais didáticos impressos elaborados para o curso de Pedagogia, disponíveis no repositório das Instituições de Ensino Superior integrantes do sistema UAB, e em seguida os analisa tendo como categorias os seguintes descritores: Linguagem dialogal; Contexto; Programação visual (ícones e imagens); Linguagem hipertextual; Exercícios, avaliação e aplicação do conhecimento e Identificação de autoria.

Há, também, o artigo intitulado “O Designer Instrucional na modalidade de ensino a distância (EAD): concepções e reflexões” de autoria de Luciana Machado Marx, que é a compilação dos resultados de um estudo monográfico desenvolvido pela autora, que teve como principal objetivo investigar a importância da presença do Designer Instrucional na elaboração de um curso de ensino superior na modalidade a distância. Com uma pesquisa do tipo exploratória e utilizando a técnica de grupo focal online síncrono e assíncrono, demonstrou que o foco principal da atuação do Designer Instrucional repousa sobre a possibilidade de fomentar uma aprendizagem real e eficaz para os alunos do ensino superior nos ambientes virtuais de aprendizagem. 

Para finalizar, no artigo “Custo de material didático no ensino a distância: uma análise comparativa com os parâmetros de fomento do governo federal” as autoras Marcia Atlayde Moreira, Thatiana Marques dos Santos, Carolina Moreira Pereira, Mariana da Silva Pinto, Vanessa Yuri Miura e Uyara de Salles Gomide, através de pesquisa bibliográfica, entrevistas e análises de relatórios e planilhas de custeio dos anos 2012 e 2013, buscaram mapear os custos da produção de materiais didáticos dos cursos de graduação e pós-graduação a distância na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). As autoras encontraram um valor médio unitário por livro produzido que se encontra em conformidade com os padrões estabelecidos pelos órgãos financiadores.

Como se podem constatar, as discussões, questões e reflexões que envolvem atualmente a EAD, são muitas e diversificadas. Temos aqui, apenas, uma pequena, porém, importante amostra delas, que certamente ajudarão a iluminar o ainda escuro e sinuoso caminho em que se desenrola a temática.

É com esse espírito que convidamos os leitores da Revista EDaPECI a fruir as leituras deste dossiê e em conjunto refletirmos a EAD hoje.

Prof. Dr. Florisvaldo Silva Rocha

 

 

 


[1]Cientistas e pesquisadores da Academia Brasileira de Ciências, criadores da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro em 1923 e da implantação de um plano sistemático de utilização educacional nacional pelo rádio, considerado o marco inicial da EAD no Brasil.

[2] ASSUMPÇÃO, Zeneida Alves de. O Rádio Ontem e Hoje: Promotor de Cultura. 1994. Disponível em: http://www.jornalismo.ufsc.br/redealcar/anais/gt2_sonora/o%20r%E1dio%20ontem%20e%20hoje.doc. Acesso em: 01 abr. 2015.

[3] De acordo com o último Censo da Educação Superior, divulgado em 2013.

 

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Biografia do Autor

Florisvaldo Silva Rocha, Universidade Federal de Sergipe (UFS)— São Cristóvão, Sergipe

Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2008), mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (1996) e, também pela UFS, graduado em Geografia (1992). Desde 1996 é professor do Departamento de Educação da Universidade Federal de Sergipe. Atualmente é professor Associado nível I e tem experiência na área da Educação, com ênfase na relação entre TIC e Educação, além de também discutir a Mídia e a Didática, atuando principalmente com os temas: História de Vida, Didática, Ensino de Geografia, Educação a Distância, Linguagem Audiovisual e Leitura Crítica da Mídia.

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Publicado

2014-12-29