Chamada para Dossiê Temático “Economia Política do esporte-espetáculo: mercantilização e resistência frente à contradição economia-cultura”

2022-10-25

A Revista Eptic, produzida pelo Observatório de Economia e Comunicação (OBSCOM) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), informa que está aberta chamada de artigos para o Dossiê Temático de sua próxima edição (vol. 25, n. 1), com o tema "Economia Política do esporte-espetáculo: mercantilização e resistência frente à contradição economia-cultura". O dossiê será coordenado por Anderson David Gomes dos Santos (Universidade Federal de Alagoas) e Irlan Simões (Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte/Uerj), com publicação prevista para março de 2023.

Os trabalhos devem ser enviados até o dia 23 de dezembro.

Na primeira edição de 2016, a Revista EPTIC publicou o dossiê temático “Estudos Críticos, Comunicação e Esportes”. Era o ano dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, último megaevento esportivo realizado no Brasil, ciclo importante para trazer os holofotes para as pesquisas sobre o esporte nas Ciências Humanas e Sociais no Brasil. Para a Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (EPC), foi um marco histórico. Ao longo dos 16 volumes anteriores, apenas 2 artigos do periódico abordaram a temática do esportes.

A partir do acúmulo e difusão de pesquisas realizadas por pesquisadores da EPC sobre a apropriação midiática do futebol, mas também de pesquisadoras/es de outras áreas interdisciplinares, propomos para a primeira edição de 2023 uma discussão mais próxima à Crítica da Economia Política e à EPC, mantendo as possibilidades de diálogo com pesquisadoras/es de outros subcampos científicos.

Não bastava e não basta mais falar em “ópio do povo”. Os esportes profissionais, com o futebol tendo lugar de maior destaque, são elementos importantes do ponto de vista mercadológico, do entretenimento, do lazer e da cultura. A análise crítica precisa ponderar sobre a importância de compreender a extensão da mercantilização sobre o jogo, mas também de observar as comunidades sociais e os processos de resistência.

É nesse sentido que resgatamos a concepção “contradição economia-cultura” na EPC brasileira, que se apresenta no capitalismo contemporâneo como consequência da contradição capital-trabalho: Segundo Bolaño (2016, p. 10):

A apropriação por parte do capital dos elementos da cultura popular, a partir dos quais será construída a cultura industrializada, passa por um momento genético de acumulação primitiva do conhecimento [...] e se perpetua pela constituição de uma classe trabalhadora particular, que é quem tem a capacidade efetiva, no interior do capital, de realizar o trabalho de mediação. O conceito chave é, nesse sentido, o de subsunção e o estudo dos processos culturais nessa perspectiva deixa claro que se trata de uma dupla subsunção e, portanto, de uma dupla contradição [capital-trabalho/economia-cultura], o que caracteriza a essência conflitiva do modo de produção capitalista: subsunção do trabalho no capital, que se vincula à subsunção da cultura popular na economia.

A pandemia acentuou processos de concentração de mercados, como efeito das crises capitalistas, e extensão da mercantilização. Exemplos disso no futebol são o fenômeno da multipropriedade de clubes no globo e a aprovação da Lei da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) no Brasil, que acelerou a inserção dos clubes locais na rota de uma redes internacionais de clubes sob a propriedade de um ou poucos grupos econômicos.

O fenômeno do soft power e/ou sportwashing também se apresenta como uma temática central na atualidade. A Copa do Mundo Qatar FIFA 2022 é o ápice de um longo processo de entrada de países do Golfo Pérsico - especialmente Qatar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Bahrein - no financiamento de eventos e megaeventos esportivos; no patrocínio a empresas, franquias e clubes esportivos diversos; da aquisição de importantes clubes de futebol; etc, voltados para o impulsionamento de em sofisticadas estratégias geopolíticas.

Sabemos que o futebol profissional acaba sendo alvo de mais estudos, mas este dossiê espera avançar para outros esportes. Dentre outras questões, por exemplo, os que se adaptam às mídias, como o vôlei; e outros que se transformam para chegar em outros públicos e atingir novas marcas ao entrarem em megaeventos esportivos, como o surfe.

A partir disso, espera-se contribuições que debatam teoricamente ou com estudos de caso sobre os seguintes pontos:

- Crítica da Economia Política do Esporte ou de algum esporte em particular;

- Discussão teórica sobre a contradição economia-cultura a partir dos esportes;

- Processos históricos ou recentes de extensão da mercantilização sobre os esportes;

- A indústria de transmissão de audiovisual na difusão e mercantilização do esporte-espetáculo;

- Resistência torcedora, disputa política e democracia no futebol;

- Megaeventos esportivos, múltiplas sedes e relações sociais e político-econômicas;

- Trabalho (cultural) no esporte-espetáculo;

- Estudos classistas sobre gênero e raça no futebol;

- Softpower e sportwashing como estratégias político-econômicas e suas contradições;

- Novas formas de estruturação e mercantilização com a multipropriedade de clubes ou controle de esportes.

Referência bibliográfica utilizada:

Bolaño, C. R. S. (2016). Campo aberto: para a crítica da epistemologia da comunicação. Aracaju: Edise.