Prorrogado prazo para DT: "Quatro décadas de reforma das telecomunicações e a configuração do novo sistema global de comunicações: olhares desde Brasil e México"

2023-05-18

A Revista EPTIC prorroga chamada de artigos para o Dossiê Temático "Quatro décadas de reforma das telecomunicações e a configuração do novo sistema global de comunicações: olhares desde Brasil e México", que será coordenado pelos professores e a professora César Bolaño (Brasil), Verlane Aragão (Brasil), Enrique Quibrera (México) e Jorge Benet (México). O dossiê integrará o terceiro número da EPTIC em 2023, cuja publicação está prevista para novembro deste ano. Os artigos devem ser apresentados até 30 de junho.

Algumas das consequências mais significativas do processo de recomposição da hegemonia norte-americana que começou no final dos anos 1970, com impactos de longo alcance para a América Latina, foram as mudanças nas telecomunicações, cujo início mais óbvio foi a quebra do monopólio da AT&T nos Estados Unidos em 1984, e a articulação de uma ampla política de reestruturação produtiva que tem como ponto central a convergência audiovisual-telecomunicações-informática.

Além das mudanças macroeconômicas, políticas e militares do governo de Ronald Reagan, que na década de 1980 transferiu a crise para a periferia capitalista e, na sequência, do colapso do chamado socialismo real na Rússia e na Europa Oriental, o projeto global de infraestruturas de informação de Bill Clinton e Al Gore permitiria a implementação mundial de um novo paradigma industrial, com impactos fundamentais no desenvolvimento tecnológico - incluindo não apenas os setores diretamente ligados às tecnologias de informação e comunicação, mas também as biotecnologias médica e agrícola - e especialmente na organização social, com novos sistemas de vigilância, estilos de vida e estratégias dos agentes, sob a hegemonia do capitalismo financeiro globalizado, que substituiu o modo de regulamentação Taylorista-Fordista-Keynesiano em vigor durante o extenso período pós-guerra.

O novo padrão tecnológico é moldado por um núcleo dinâmico cuja base é a exploração do conhecimento para formar os ativos intangíveis a serem explorados em escala global. A comunicação é um dos setores industriais que mais tem sofrido com a configuração econômico-produtiva emergente.

Brasil e México, os dois maiores e mais desenvolvidos países capitalistas da América Latina, têm sido fortemente impactados por este movimento que vem se desdobrando globalmente há quase meio século. Ambas são também duas áreas relevantes nas quais os estudos latino-americanos sobre a Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura (conhecidos pela sigla EPC) se desenvolveram. Desde seu início, nos anos 1970 e 1980, a EPC latino-americana tem se dedicado ao estudo desses processos, incluindo a privatização das telecomunicações e sua importância em termos de reestruturação produtiva e mudanças nas estruturas do poder político e econômico em nível internacional, a implementação de políticas neoliberais, impactos no sistema global de cultura, com a constituição da economia política da internet e plataformas digitais, entre outros, que nos levaram à situação atual em que a crise do capitalismo e a crise da hegemonia norte-americana estão mais uma vez intensamente presentes.

México e Brasil apresentam importantes semelhanças e diferenças em termos estratégicos, como no caso acima mencionado da reforma das telecomunicações, que se somam a outras de natureza estrutural, e que surgem como resultado de seus diferentes processos de industrialização, sua proximidade com o poder norte-americano, sua participação em diferentes blocos regionais, entre outras questões. A análise comparativa do desenvolvimento delas pode oferecer elementos importantes para a compreensão da história recente da América Latina nesta área e até mesmo para possíveis comparações com as experiências de outros países ditos periféricos.

A proposta da presente chamada é uma iniciativa de dois grupos de pesquisa com tradição na área, o Observatório de Economia e Comunicação (OBSCOM-CEPOS), da Universidade Federal de Sergipe, no Brasil, e o Colectivo de Economía y Cultura de México, que reúne pesquisadores da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) e da Universidad Autónoma Metropolitana - Unidad Xochimilco. Os respectivos coordenadores têm uma história de colaboração, que é retomada neste momento transcendental, marcado pela pandemia covid-19 e pelas mudanças geopolíticas geradas pela administração Biden; a guerra econômica contra a Rússia e suas consequências, e a emergência da China como um ator líder na tecnologia das comunicações - em que se abre um novo período na história de um capitalismo reorganizado, marcado pela existência de um novo sistema global de cultura, fruto dos complexos processos tratados aqui. É um momento, portanto, propício para balanços e projeções. Este é o objetivo do dossiê.

Sem prejuízo de outros, indicamos os temas a seguir que são de interesse para o dossiê. Análises comparativas entre Brasil e México são bem-vindas, mas a questão está aberta a discussões sobre outras experiências (e outras comparações), especialmente na América Latina:

a) Reestruturação das indústrias culturais com digitalização geral e desafios em face do avanço da Internet.

b) Contrastes e semelhanças no fornecimento de acesso: mesmos atores; ofertas diferentes; arranjos diferentes ou políticas paralelas?

c) Visão geral do desenvolvimento das chamadas indústrias criativas: gestão para o desenvolvimento privado?

d) Plataformas de distribuição de conteúdos audiovisuais e de televisão de acesso livre: rupturas ou continuidades?

e) O Globo e Televisa: sinergia no céu e desenvolvimentos nacionais diante da convergência.

f) Telecomunicações comunitárias: experiências, projetos e desafios diante dos sistemas de comunicações globais.

g) Interesses geopolíticos e agendas comuns na América Latina diante dos sistemas de infocomunicação globalizados.

h) Regulação das plataformas: semelhanças e diferenças no que, como, onde e quando.

Coordenadores: César Bolaño (Brasil), Verlane Aragão (Brasil), Enrique Quibrera (México) e Jorge Benet (México).