A Estabilização das Representações Criminais e Psicotrópicas dos Usuários e dos Usos da Maconha no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21669/tomo.vi40.15888

Palavras-chave:

Maconha, Discurso médico, Empreendimento moral, Criminalização

Resumo

Este estudo trata do momento em que uma cruzada médica e jurídica no Brasil ganhou foro de política pública e acabou por consolidar no imaginário popular brasileiro a criminalização e a desqualificação dos
usuários e dos usos da maconha. Trata-se de um instante no qual ações sistemáticas (cobertura da imprensa, convênios, campanhas, congressos, publicações, etc.) amparam a cruzada moral promovida pelo discurso
médico e sanitarista e contribuíram para fixar um conjunto de práticas voltadas para a tentativa de diagnóstico e, subsequentemente, prevenção e erradicação dessa prática. Os resultados da pesquisa indicam que o processo de construção sistemática de um imaginário que migra o uso da maconha do viés medicinal e farmacológico para o criminal e toxicológico tem início nas primeiras décadas do século XX. Foi somente a partir das décadas de 1930 e 1940 que as imagens que desqualificam os usos e usuários da maconha começam a circular pela imprensa brasileira com mais força e que ações e campanhas promovidas pelo Estado brasileiro transformam essa prática em flagelo social. É a partir daí que tem início uma outra forma de controle, o biopolítico, sobre os elementos pobres e negros da sociedade brasileira.

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Biografia do Autor

Ivan Fontes Barbosa, Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Professor (Sociologia) Associado do DCS (Departamento de Ciências Sociais) e do PPGS (Programa de Pós-Graduação em Sociologia) da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

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Publicado

2022-01-09

Como Citar

Barbosa, I. F. (2022). A Estabilização das Representações Criminais e Psicotrópicas dos Usuários e dos Usos da Maconha no Brasil. Revista TOMO, (40), 277. https://doi.org/10.21669/tomo.vi40.15888

Edição

Seção

DOSSIÊ

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