As viagens de Caliban na América Latina: um estudo comparado entre Oswald de Andrade e Aimé Césaire

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21669/tomo.v42i.16328

Palavras-chave:

América Latina, Pensamento político e social latino-americano, Calibanismo, Estudos pós-coloniais/decoloniais, Identidades latino-americanas

Resumo

A peça A tempestade, de Willian Shakespeare, teve ressonâncias profundas e diversas de seu contexto de origem. Prova disso é que ela e seus personagens foram utilizados sistematicamente, e num espaço temporal alargado, para se pensar metáforas sobre a América – suas condições de colonização, disputas geopolíticas, construção de identidades e cristalização de imagens a respeito do continente. O caso que aqui temos em tela é um recorte deste quadro geral: pretendemos, aqui, estudar o chamado momento caliban do pensamento latino-americano. De forma mais precisa, intentamos fazer um estudo comparado das experiências intelectuais de Oswald de Andrade e Aimé Césaire. O nosso objetivo com este estudo comparativo é oferecer uma leitura sobre a constituição, potencialidades e limitações do calibanismo – que foi e é essencial para conformações de imagens e ideias sobre a América Latina.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Rafael Marino, Universidade de São Paulo (USP)

Doutorando e mestre (2019) em Ciência Política pela FFLCH - USP. Tem experiência nas áreas de Ciência Política e Sociologia, com ênfase em Pensamento político brasileiro, Teoria Política, Teoria crítica, marxismo, sociologia da cultura e sociologia da arte. Trabalha, atualmente, como técnico de programação cultural na área socioeducativa do SESC Belenzinho. É editor da revista Leviathan (DCP-USP). 

Referências

Andrade, Oswald de. A utopia antropofágica. São Paulo: Globo, 2011.

Andrade, Oswald de. Obras completas II: Memórias sentimentais de João Miramar; Serafim ponte grande. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.

Andrade, Oswald de. Poesias reunidas. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

Aranha, Graça. O espírito moderno. In: Aranha, Graça. Espírito moderno. São Paulo: Cia. Graphico – Editora Monteiro Lobato, 1925, p. 23-49.

Aradao, Arturo. Genésis de la idea y el nombre América Latina. In: Arado, Arturo. América Latina y la latinidad. México: UNAM, 1993, p. 155-167.

Arinos, Affonso. O índio brasileiro e a Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Toopboks, 2000.

Bilbao, Francisco. Iniciativa de la América. Idea de um congresso federal de las repúblicas. In: Zea Leopoldo. Fuentes de la cultura latino-americana. México: Fondo de Cultura Economica, 1995, p. 51-67.

Botelho, André; Bastos, Elide Rugai. Por uma sociologia política dos intelectuais. In: Botelho, André. O retorno da sociedade: política e interpretações do Brasil. Petrópolis: Vozes, 2019, p. 220-249.

Brandão, Gildo Marçal. Linhagens do pensamento político brasileiro. Dados, Rio de Janeiro, v.48, n.2, abril/jun., 2005, p. 231-269.

Brotherson, Gordon. Arielielismo and Antropophagy: The Tempest and Latin America. In: Hume, Peter; Sheerman, William (Orgs.). The Tempest and its travels. London: Reakton Books ltd, 2000, p. 212-219.

Caicedo, José Maria Torres. Las dos Americas, 2006. Disponível em: http://www.filosofia.org/hem/185/18570215.htm.

Campos, Haroldo. Da razão antropofágica: diálogo e diferença na cultura brasileira. In: Campos, Haroldo. Metalinguagem e outras metas. São Paulo: Perspectiva, 2017, p. 231-257.

Césaire, Aimé. Cahier d’un retourn au pays natal: Diário de um retorno ao país natal. São Paulo: EDUSP, 2012.

Césaire, Aimé. Conscience raciale et révolution sociale. L ́Étudiant noir, Paris, v. 1, n.3, p.1, maio/ jun, 1935.

Césaire, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Florianópolis: Letras contemporâneas, 2017.

Césaire, Aimé. Um tempête. Paris: Éditions du Seuil, 1997.

Chevalier, Michel. Introduction. In: Chevalier, Michel. Lettres sur l’ Amérique du Nord. Bruxelles: Société Belge de Librairie, 1837, p. III – XVI.

Chevrier, Jacques. Littératures d’Afrique noire de langue française. Paris: Nathan Université, 1999.

Chibber, Vivek. Post-colonial theory and the spectre of capital. London: Verso, 2013.

Confiant, Raphaël. Aimé Césaire: une traversée padaroxale du siècle. Paris: Stock, 1993.

Dantas, Vinicius. As relações de Oswald de Andrade com o Partido Comunista. In: Abdala Jr., Benjamin; Cara, Salete de Almeida. Moderno de nascença: figurações críticas do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2006, p. 161-170.

Darío, Rubén. El triunfo de caliban. Revista Iberoamericana, Pittsburgh, v. 64, n.184-185, jul./dez., 1998, p. 451-455.

Darío, Rubén. Edgar Allan Poe. In: Darío, Rubén. Los raros. Madrid, Editorial Mundo Latino, 1920, p. 17-31.

Del Picchia, Menotti; Salgado, Plínio; Ellis, Alfredo; Ricardo, Cassiano; Motta Filho, Candido. O atual momento literário. Correio Paulistano, 1929, nº 23.555, p. 4.

Du Bois, William Edward Burghardt. As almas da gente negra. Rio de Janeiro: Editora Lacerda, 1999.

Fanon, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. São Paulo: EDUFBA, 2008.

Federici, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante editora, 2017.

Fonseca, Maria Augusta. Oswald de Andrade: biografia. São Paulo: Globo, 2007.

Frey, Charles. The tempest and the New World. Shakespeare Quartely, Washington, v. 30, n. 1, set./dez. 1976, p. 29-41.

Groussac, Paul. Discurso del sr. Groussac. In: Groussac, Paul. España y Estados Unidos. Buenos Aires, Compañia SudAmericana de Billtetes de Banco, 1898, p. 31-57.

Groussac, Paul. Del Plata al Niagra. Buenos Aires, La Biblioteca, 1897.

Hall, Stuart. Pensando a diáspora: reflexões sobre a terra no exterior. In: Hall, Stuart. Da diáspora. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003, p. 25-50.

Jáuregui, Carlos. Canibalia. Madrid: Iberoamericana editorial, 2008.

Lee, Sidney. A Life of William Shakespeare. Chapel Hill: Gutember project, 2007.

Lima, Bruna Della Torre. Vanguarda do atraso ou atraso da vanguarda? São Paulo: Alameda, 2019.

Löwy, Michael; Sayre, Robert. Revolta e melancolia. São Paulo: Boitempo, 2015.

Mannoni, Dominique. Prospero and Caliban: the psycology of colonization. Methuen & co. LTD, 1956.

Micheli, Mario de. As vanguardas artísticas. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

Mignolo, Walter. The idea of Latin America. Malden: Blackwell, 2012.

Monegal, Emir Rodríguez. Las metamorfosis de Calibán. Vuelta, vol. 3, n. 25, dez. 1978, p. 23-26.

Montaigne, Michel de. Ensaios. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

Morse, Richard. O espelho de próspero: cultura e ideias nas américas. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

Murphy, Patrick. Interpreting The tempest. A history of its readings. In: Murphy, Patrick. The tempest: critical essays. New York: Routledge, 2013, p. 3-75.

Nunes, Benedito. Antropofagia ao alcance de todos. In: Andrade, Oswald de. A utopia antropofágica. São Paulo: Globo, 2011a, p. 7-59.

Nunes, Benedito. O retorno à antropofagia. In: Ruffinelli, Jorge; Castro Rocha, João Cezar. Antropofagia hoje? Rio de Janeiro: É Realizações, 2011b, p. 383-389.

Orgel, Stephen. Introduction. In: Shakespeare, Wiliam. The tempest. Oxford: Oxford University Press, 2008, p. 1-93.

Pestre de Almeida, Lilian. O teatro negro de Aimé Césaire. Rio de Janeiro: UFF, 1978.

Pestre de Almeida, Lilian Preste de. Posfácio.In: Césaire, Aimé. Cahier d’un retourn au pays natal: Diário de um retorno ao país natal. São Paulo: EDUSP, 2012, p. 93-155.

Prado, Paulo. Poesia Pau Brasil. In: Andrade, Oswald de. Poesias reunidas. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, p. 15-23.

Perry, Jeffrey. Hubert Harrison: the voice of Harlem radicalism, 1883-1918. New York: Columbia University Press, 2009.

Retamar, Roberto. Todo Caliban. Bogotá: ILSA, 2004.

Ricupero, Bernardo. A república e a descoberta da América: nova forma de governo e mudança identitária no Brasil da década de 1890.

Dados, Rio de Janeiro, vol.61, n.1, 2018a, p. 213-253. Ricupero, Bernardo. O “original” e a “cópia” na antropofagia. Revista Sociologia & Antropologia, Rio de Janeiro, v. 08, n. 3, set./dez. 2018b, p. 875-912.

Ricupero, Bernardo. Ariel na América: viagens de uma ideia. Interseções, Rio de Janeiro v. 18, n.2, maio/ago., 2016, p. 372-407.

Ricupero, Bernardo. A tempestade e a América. Lua nova, São Paulo, v.1, n. 93, jan./abril, 2014, p. 11-31.

Ricupero, Bernardo. Existe um pensamento político brasileiro ou as ideias e seu lugar. In: Ricupero, Bernardo. Sete lições sobre as interpretações do Brasil. São Paulo: Alameda, 2011.

Rodó, José. Ariel. Ariel y motivos de proteo. Caracas: Biblioteca Ayacucho, 1993.

Sánchez, Luís Alberto. La vida del siglo. Caracas: Biblioteca Ayacucho, 1998.

Sarnecki, Judith. Mastering the Masters: Aimé Césaire’s creolization of Shakespeare’s The Tempest. The french review, Marion, v. 74, n. 2, dez. 2000, p. 276-286.

Shakespeare, Wiliam. A tempestade. São Paulo: Saraiva, 2011.

Schwarcz, Lilia; Botelho, André. Pensamento social brasileiro, um campo vasto ganhando forma. Lua nova, São Paulo, v.82, n.1, jan./ abr. 2011, p. 11-16.

Schwarz, Roberto. Que horas são? São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Skinner, Quentin. From humanism to Hobbes: studies in rhetoric and politics. Cambridge: Cambridge University Press, 2018.

Skinner, Quentin. Hobbes e a liberdade republicana. São Paulo: Editora UNESP, 2010.

Skinner, Quentin. Retrospect: studying rhetoric and conceptual change. In: Skinner, Quentin. Vision of pol-itics, v.1: regarding method. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.

Skura, Meredith. Discourse and the individual: the case of colonialism in the Tempest. Shakespeare Quarte-ly, Washington, v. 40, n. 1, mar./jun. 1989, p. 42-69.

Slights, Jessica. Rape and the romanticization of Shakespeare’s Miranda. Studies in English Literature, Baltimore, v. 41, n. 2, mar./jun. 2001, p. 357-380.

Sterzi, Eduardo. Dialética da devoração e devoração da dialética. In: Ruffinelli, Jorge; Castro Rocha, João Cezar. Antropofagia hoje? Rio de Janeiro: É Realizações, 2011, p. 437- 455.

Thompson, Ann. Miranda, where’s your sister? Reading Shakespeare’s The tempest. Kamps, v.1, n.1, jan./ jul. 1995, p. 168-177.

Toledo, Magdalena. Marronismos, bricolagens e calibalismos: percursos de artistas e apropriações de Aimé Césaire na Martinica contemporânea. 228f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - PPGAS, UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, 2014.

Vaughan, Alden. Caliban in the “third world”: Shakespeare’s savage as sociopolitical symbol. The Massachu-setts Review, Boston, V. 29, N. 2, 1988, jun./ set. 1988, p. 289-313.

Vaughan, Alden. Shakespeare’s Indian: the americanization of Caliban. Shakespeare Quartely, Washington, v. 39, n. 2, jun./ set. 1988, p. 137-153.

Vrancic, Frano. La poésie d’inspiration marxiste dans l’œuvre poétique d’Aimé Césaire. Ostium, Bratislava, v.14, n. 3, jul./set. 2018, p. 1-15.

Wilder, Gary. Freedom time: negritude, decolonization and the future of the World. Durham: Duke Univer-sity Press, 2015.

Wilder, Gary. The french imperial national-state: negritude and colonial humanism between the two world wars. Chicago: The University of Chicago, 2005.

Zabus, Chantal. Tempests after Shakespeare. Nova York, Palgrave, 2002.

Publicado

2023-01-11

Como Citar

Marino, R. . (2023). As viagens de Caliban na América Latina: um estudo comparado entre Oswald de Andrade e Aimé Césaire . Revista TOMO, 42, e16328. https://doi.org/10.21669/tomo.v42i.16328

Edição

Seção

Dossiê: Teorias Críticas Decoloniais: uma ecologia de saberes